outubro 29, 2010

O nascimento das civilizações- Parte I -Os Preguiçosos



Algures na aurora da humanidade houve um preguiçoso que subiu ao poder. Não podemos saber exactamente como foi, podemos apenas especular. Imaginemos um grupo de hominídeos algures em África. O grupo caminha calmamente procurando fruta para se alimentar. É um trabalho diário procurar comida na floresta. Um dos membros do grupo prefere não participar na busca, considera-a cansativa. Fica deitado todo o dia e quando os companheiros regressam come alguns restos que ainda trazem consigo. Ele é o preguiçoso do grupo. E foi num dia normal dos nossos hominídeos que o preguiçoso se tornou o seu líder.Talvez estivesse a dormir numa árvore e tenha caído desamparado sobre um grande cacho de bananas que alimentou os seus companheiros esfomeados e eles, gratos e sem desconfiarem que a refeição tinha sido um "acidente" fizeram dele o líder. Talvez tenha adormecido demasiado perto da beira de uma encosta e tenha rebolado até perto de um riacho descobrindo água fresca. O que importa reter é que a subida ao poder por parte do nosso preguiçoso não foi intencional. Mas não demorou muito para que ele percebesse as vantagens de ser líder e de como isso propiciava ainda mais a sua natural preguiça. Tinha quem lhe levasse alimento e já não eram apenas os restos que ele antes procurava, pelo contrário, os melhores alimentos eram reservados para ele. Não demorou para que os nosso hominídeos passassem a homens e começassem a ter as suas casas e as suas aldeias. E lá continuava o preguiçoso no poder. Depois de gerações no poder o preguiçoso dominava bem as regras do poder e já tinha evoluído bastante desde o seu predecessor na floresta. As suas ordens já não eram dadas directamente por si, ele já tinha uma espécie de delegado que transmitia as suas vontades aos seus súbditos. O simples facto do preguiçoso não se deixar ver criava uma espécie de expectativa e receio que alimentavam a obediência. E ele não aparecia não por querer criar este ambiente de mistério, simplesmente tinha preguiça de sair da sua confortável cabana. O tempo foi passando e não demorou para que os preguiçosos passassem a ser reis, imperadores, czares...agora completamente à vontade nos jogos de poder sabiam rodear-se de mais alguns preguiçosos em quem delegavam funções, os quais por sua vez mandavam fazer a outros menos preguiçosos que eles. Mais uma vez aqui funcionava bem o sistema de manter o mistério que é óptimo para o preguiçoso que se está nas tintas para se levantar da sua confortável cama, sair do seu seguro palácio e ir ver o que o seu país/reino/império precisa. As populações ofuscadas por esta presença misteriosa não contestam a sua situação nem o poder de quem os rege. Seguem-se as eras umas às outras e chegamos à modernidade. E quem econtramos à frente de muitas das nossas "democracias"? O nosso preguiçoso. Agora num nível absolutamente avassalador o preguiçoso rodeia-se de vários outros preguiçosos, podemos chamar-lhes por exemplo: ministros. Estes ministros, que são versões quase idênticas do preguiçoso que manda, também se fazem rodear de outros preguiçosos, a estes podemos chamar secretários de estado. Mas não fica por aqui. Esta versão um pouco mais baixa de preguiçoso também tem de ter em quem mandar e quem lhe faça o que ele tem preguiça de fazer, por isso arranjam um novo grupo, os sub-secretários. O ciclo continua desdobrando-se em assistentes, assistentes dos assistentes e por aí fora. Ora este desdobramento em vários estratos diferenciados de preguiçosos cria um grande problema. Entre o preguiçoso que está na base do poder e o preguiçoso do topo estão várias centenas de preguiçosos, o que leva a alguns problemas na comunicação e na ágil resolução de questões. Imaginemos por exemplo que alguém na base da pirâmide faz um extenso relatório sobre a economia do seu país. Este documento é muito importante e deve ser lido o mias rapidamente possível pelo Primeiro Preguiçoso. Então o relatório é entregue a um dos assistentes dos assistentes, que depois o passam aos assistentes, que depois o passam aos sub-secretários e lá vai o relatório de mão em mão, passando de subalterno em subalterno, até que, vários meses após ter sido entregue chega finalmente às mãos do Primeiro Preguiçoso. Ora o nosso Primeiro, que estava descansadamente a tentar escolher um novo carro de luxo para a frota dos preguiçosos fica estupefacto ao ver tamanho "calhamaço". Não há dúvidas que aquele relatório é material de leitura pesada, ideal para levar para casa e ler todos os dias antes de ir dormir. E assim se passam meses (até anos) entre a elaboração do relatório e a sua leitura. Quando finalmente o nosso Primeiro chega ao final põem-se-lhe vários problemas, já não se lembra do que dizia o início do relatório e o pior é que depois de tanto tempo a coisa já está um pouco desactualizada. E é desta forma que se vão gerindo os destinos de vários países, com calma, muita calma. Mas analisando bem a coisa a culpa não é só do Primeiro Preguiçoso, nem de todos os preguiçosos que com ele trabalham, nem sequer daquele primordial preguiçoso que caiu da árvore. Uma parte da culpa cabe-lhes a eles, mas outra parte fica entregue aos milhares de preguiçosos que acham que não vale a pena reclamar porque nunca muda nada ou que em dia de eleições preferem ir passar o dia à praia ou ao shopping do que ir votar.
Em próximas ocasiões analisaremos o percurso ascendente de outros hominídeos como o "mentiroso" ou o "mandão".

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