janeiro 31, 2007

Nestas últimas semanas muito se tem falado acerca do caso de uma menina de 5 anos, natural da Sertã
que foi entregue pela mãe a um casal, 3 meses após o nascimento, uma vez que esta considerava não ter condições 
para criar a menina.
Muito se tem dito acerca deste assunto, que eu sinceramente considero que ultimamente começa perigosamente a derrapar para a palhaçada.
A primeira coisa que salta à vista, pelo menos a mim, é o julgamento público que tem sido feito pelos meios de comunicação social. Ora isto intriga-me, porque na escola aprendemos que o jornalismo deve ser imparcial, sem tomar partidos nem fazer juízos de valor. Sinceramente não me parece que seja aqui o caso. Os media têm apoiado descaradamente o casal que ficou com a menina, quase acusando o pai biológico de ser um incapaz que não vai conseguir criar a criança.
Não me parece que caiba aos jornais e televisões fazer este tipo de campanha. A eles cabe-lhes apresentar factos e nada  mais. E parace-me que por vezes nem isso têm feito convenientemente. Este caso quanto a mim está um pouco mal explicado.
Embora, por um lado, eu compreenda as razões que levaram este casal  a tomar esta atitude drástica, por outro também entendo que inicialmente o pai biológico tivesse dúvidas em relação à paternidade, uma vez que a mãe da menina teria tido relacionamentos com diversos homens. E não me venham dizer que é má vontade, porque qualquer homen (e sobretudo os portugueses, que não admitem enganos nessas áreas...) teria feito o que este fez. Aguardou a confirmação do exame de ADN para depois perfilhar a criança. Logo aqui penso que o casal que tinha a menina não foi muito correcto ao não permitir que o pai visitasse a criança. Talvez se tivessem iniciado aí um bom relacionamento com o pai biológico, muito do que está a acontecer pudesse ter sido evitado.
Depois outras coisas me parecem no mínimo incoerentes. A mãe biológica que vem agora dizer que quer que a filha fique aos cuidados deste casal, afirmou à 2 anos e meio atrás que queria que a menina ficasse com o pai biológico, aquando das audiências para a atribuição do poder paternal.
A senhora, uma imigrante brasileira, defende-se dizendo que o fez para que a menina não fosse para uma instituição....
Em entrevista à SIC, esta mulher afirmou que pouco tempo depois de ter entregue a menina aos cuidados deste casal, procurou-os para visitar a filha. No entanto, nunca obteve resposta e por isso não conseguiu ver a filha. Para além disso, esta brasileira, que na altura estava ilegal no nosso país, disse também que recebeu vários telefonemas anónimos, em que uma mulher a ameaçava dizendo para ela se manter calada senão denunciavm-na ao SEF. Eu só gostava de saber quem era esta mulher que ameaçava a imigrante com a perspectiva de ser deportada de volta ao seu país, de onde de certeza saiu 
em busca de uma vida melhor.
Bom, independentemente de se tomar partidos, e apesar das razões deste casal, o facto é que eles estão a desobedecer a uma ordem do tribunal, que à 2 anos e meio atrás atribuiu o poder paternal ao pai biológico. Qualquer cidadão que actue fora da lei, o que aqui é claramente o caso, tem de depois arcar com as consequências dos seus actos. Embora eu concorde que a pena pode ter sido exagerada, o facto é que este casal está a ir contra a lei ao ter em paradeiro incerto esta menina.
Por outro lado muito me espanta esta grande corrente de solidariedade que se gerou à volta deste caso.
Numa situação bastante diferente que foi noticiada na SIC à uns meses atrás, dava-se conta do caso de um jovem que tinha sido condenado a 3anos de prisão (se a memória não me falha), por alegadamente ter roubado um telemóvel. Ora as vítimas, quando ouvidas em julgamento nunca identificaram este jovem sem sombra de dúvida. Ficou sempre tudo no campo da incerteza. Para além disso, o jovem teve a depôr a seu favor uma testemunha que confirmou que no dia do assalto em que supostamente esteve envolvido, teria estado a trabalhar. A testemunha era uma senhora que tem uma empresa de mudanças e que chamava este jovem para trabalhar consigo quando este não estava na escola. A senhora em questão apresentou a agenda em que tinha marcado 
o trabalho que tinha tido nesse dia, e que tinha certeza, tinha tido a participação do jovem em questão. Para além do seu testemunho não ter valido de nada ao jovem que acabou por ser condenado, o juiz que presidia ao julgamento quase acusou a testemunha de mentirosa.
Este jovem, de origem africana, foi preso injustamente, e a uma pena quanto a mim excessiva para o roubo de um telemóvel!!!
Comparativamente com a pena que foi atribuída por, não direi sequestro da menina, mas por manutenção em parte incerta, penso que a juíza que condenou este homem até foi bastante branda.
Ora para além do peso exagerado da pena atribuída ao jovem acusado de roubar uma porcaria de um telemóvel, muito me espanta que a população portuguesa não se tenha insurgido contra o tribunal que o condenou, como está a acontecer agora, e não tenha feito abaixo-assinados e outras iniciativas para ajudar este jovem que foi condenado estando inocente.
Parece-me que a nossa justiça de tribunal, mas também a justiça dentro da cabeça dos portugueses, tem dois pesos e duas medidas. Eu tremo de pensar que não houve iniciativas nem recolhas de assinaturas para ajudar este jovem apenas pelo facto de ele ter uma cor de pele diferente.....
Já que a justiça deve ser chamada à atenção porque não fazer uma recolha de assinaturas, para que alguns famosos (futebolistas e artistas) que foram apanhados a conduzir com excesso de álcool, sejam sujeitos a multa e a ficarem sem carta como aconteceu
a um pobre serralheiro civil que foi apanhado no mesmo dia, ou então revoguem a multa do serralheiro, devolvam-lhe a carta e ponham-no a fazer trabalho comunitário......
Enfim, vai mal este país.....
Precisamos de abrir os olhos, se é para lutar por uma justiça menos parcial e mais eficaz então que se lute por todos os injustiçados e não só por alguns.
Uma última nota para o jornalismo português que anda esquecido daquilo que aprendeu. Está na hora de tirar o pó aos livros da faculdade e rever a matéria.....

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