março 24, 2011

"Já dizia o velho Fócrates, a vida é uma soda"
Hoje as notícias matinais espanholas abriram com a mensagem de Sócrates ao país a anunciar a sua decisão de se demitir. Confesso que me senti triste. Não sou apoiante do Sócrates e sei que a sua governação foi no mínimo desastrosa. Chegou ao poder no momento em que a crise estava a chegar e ele e o seu governo em vez de tracarem tudo a sete chaves, escancararam bem a porta para ela entrar. Fiquei triste por ver que em tempos de crise a nossa classe política continua a não se unir para governar, o governo governa mal e a oposição não apresenta alternativas nem ideias, limita-se a dizer mal. Numa altura em que todos deviam trabalhar para o bem comum os partidos estão mais preocupados em dizer mal uns dos outros. Há muito tempo que a política em Portugal não se faz de ideias, faz-se de acusações e de malidicência. O panorama político português transformou-se no recreio onde estes meninos mimados passam o tempo a fazer queixinhas uns dos outros para ver ao fim do dia quem recebe um rebuçado de recompensa. Eu sei que a maioria das pessoas está contente com a queda do governo. Mas será que já pensaram bem se esta é a melhor solução para o país? Os portugueses não se podem iludir com a chegada de um novo governo, as coisas não vão melhorar de um dia para o outro mal um novo primeiro ministro sente o rabo na cadeira. Durante muito tempo ainda as coisas vão ficar como estão e não vai ser o novo governo a mudá-las. Os portugueses têm de se envolver mais na vida cívica, têm de começar por exemplo por ir votar. Espero que depois de tantas pressões para a saída deste governo e sabendo que se vão gastar algo como 18 milhões de euros para fazer eleições que ao menos os portugueses tenham a decência de ir votar. Mas só votar não chega. todos temos de fazer a nossa parte, cumprir com as nossas obrigações e denunciar quem não cumpre com as suas. Ah pois, que isto de viver em democracia não é só direitos, também há deveres. Já chega de passarmos a vida a reclamar e não ir além disso. Só reclamar não chega. As pessoas têm de se mobilizar, tomar atitudes, fazer as coisas acontecer. Não interpretem isto como um apelo à violência, simplesmente é um apelo para as pessoas sairem deste estado zombie em que estão há tantos anos, em que repetidamente têm deixado passar em brancas nuvens situações que têm sido tão prejudiciais para o país. Tenho esperança que Portugal se levante de mais este grande trambolhão, mas vamos ter de ser todos nós a tratar-lhe das feridas.

março 15, 2011

A luta das canções
Há já muitos anos que deixei de assistir ao festival RTP da canção com o entusiasmo com que assistia na infância.Nesses tempos as canções eram realmente festivaleiras e faziam sucesso ao contrário do que acontece agora em que nem sequer conhecemos as canções vencedoras e muito menos as que não ganharam.Os festivais há muito que perderam a glória de outros tempos o que se vê bem pelos participantes, são na sua maior parte desconhecidos de quem nunca ninguém ouviu falar.E o pior nem é isso,o pior é a qualidade das canções apresentadas que andam entre o mau e o impossível de ouvir mais do que uma vez.A verdade é que o festival há já muitos anos que acontece sem quase darmos por isso.Mas este ano o festival voltou a marcar a actualidade, não pelo elevado nível de qualidade mas pelos vencedores: os Homens da Luta.Eu achei piada à vitória,não me sinto defraudada nem ofendida por ela e ainda achei mais piada às vozes que se levantaram em protesto.Para quem ainda nem foi à Eurovisão os Homens da Luta já conseguiram um feito que há muitos anos ninguém conseguia que foi pôr as pessoas a falar do festival.Eu tenho debatido o tema com alguns amigos e não percebo a indignação de alguns deles.Valem-se de argumentos como o facto de eles serem humoristas e não cantores.Lamentamos mas no regulamento não pedem a carteira profissional de cantor e ainda bem, senão há anos atrás lá tinham impedido o médico Carlos Paião de participar.Depois vêm com a conversa que a canção é fraquita.Outro argumento, na minha opinião parvo, porque já há muitos muitos anos que Portugal não apresenta uma canção de jeito ao festival.Depois vêm com o meu argumento favorito(por ser realmente tonto)que é a imagem que Portugal passa com esta participação.E aqui deixo a minha humilde opinião:Mas qual imagem?As pessoas de outros países que conhecem Portugal e têm uma ideia sobre o nosso país não a vão alterar.Senão vejamos: em 1998 Israel levou à Eurovisão uma cantora transexual e não foi por isso que ficámos a pensar que as pessoas de Israel andam todas a mudar de sexo.Em 2006 foram os metaleiros Lordi a surpreender o festival e não é por isso que imaginamos que na Finlândia as pessoas andam todas preto, maquilhadas como o gajo dos Kiss e com botas de plataforma.Isto é só para referir dois casos que por acaso até foram vencedores.Por cá,já que estão assim tão preocupados com aquilo que os outros europeus vão pensar de nós talvez fosse melhor ter impedido o José Cid de ir,não se fosse dar o caso de pensarem que em Portugal usamos todos capachinho.Alvos a abater seriam também a Dina, porque não queremos que pensem que Portugal é um país de lésbicas e claro o Armando Gama, para não pensarem que usamos todos aquele risquinho ao meio,que fique bem claro que o único herdeiro dessa moda é o Paulo Bento.Não pensem que eu adoro a canção vencedora,por acaso gostava bastante da do Henrique Feist.Mas a realidade é que quem viu o festival e se preocupou em votar escolheu os Homens da Luta.Como em muitas outras situações em que são chamados a votar os Portugueses preferem demitir-se dessa função porque acham sempre que vai haver muitas outras pessoas que o façam.Como todos pensam assim acabam por depois apanhar estas surpresas.A canção pode não ser uma pérola literária mas pelo menos é divertida e é a primeira em muitos anos que me ficou na cabeça depois de ouvir só umas duas vezes.Se isso não é ser uma canção festivaleira então não sei o que será.Mas afinal quem é que disse que as canções do festival tinham de ser todas muito sérias e profundas?Aquilo é um festival da canção,não é um seminário de apresentação de teses filosóficas.Essa regra das canções muito sérias deve estar ao lado da que obriga que as canções falem dos descobrimentos porque só se ouve no festival é coisas como: mar, sal, mundo, canela e saudade.Ah não, parece que afinal isso não é uma regra,deve ser algum trauma dos portugueses de falarem sempre das mesmas coisas.Resumindo e concluindo (porque já me estou a alargar e isto supõe-se ser um post e não um tratado sobre o Festival)se as pessoas espalhadas por essa Europa fora ficarem a pensar que os portugueses andam com calças à boca de sino e as portuguesas vestidas de ceifeiras então esses europeus são francamente estúpidos e nem merecem que nos preocupemos com as suas opinões,porque quem não tem inteligência para perceber que mais do que a canção os Homens da Luta levam uma encenação, quem for tão burrinho ao ponto de achar que aquilo é tudo verdade também não merece a nossa consideração.Sobretudo o que me parece a mim é que esta súbita preocupação que agora estão todos a ter sobre a imagem que passaremos na Alemanha não é mais do que um reflexo do nosso grande complexo de inferioridade que para além de ser altamente exagerado é um peso morto que não nos deixa avançar.Portugal tem muitas coisas más,tem claro,mas também tem muitas coisas boas.Mas nós só nos fixamos nas más,os meios de comunicação só falam delas.Vamos começar a dar mais valor ao que temos,talvez assim consigamos também tornar em bom o que agora é mau.

março 10, 2011

Faltou o quase...
Eu não gosto de futebol,nunca gostei e acho que com esta idade já não me nasce o amor ao chamado "desporto rei". pode ser o mais excitante dos desportos,o que mais multidões arrasta mas também é de certeza o que mais dissabores causa,mais brigas provoca e mais violência cria! ora aqui nesta zona da península o futebol ocupa bastante tempo nos noticiários o que a mim me leva a trocar imediatamente de canal porque prezo muito a minha sanidade mental. mas de vez em quando, meu esposo é acometido de um súbito interesse futebolístico e lá tenho de ouvir os comentários sempre altamente eloquentes das gentes futeboleiras. de todos os discursos recorrentes no mundo do futebol aquele que eu mais gosto é o dos perdedores que conseguem fazer ressaltar as suas qualidades e fazem-no tão bem que no final de tanta conversa quase nos convencem que eles é que ganharam. afirmações do género: "tivemos mais posse de bola","rematámos mais vezes à baliza adversária","tivemos pouca sorte" e o famosíssimo"a culpa foi do árbitro". ora eu que sempre fui aluna fraca a educação física ainda consegui aprender qualquer coisa. aprendi por exemplo que quando se joga futebol, para ganhar tem se marcar mais golos do que a equipa adversária. ou seja, ter mais posse de bola não dá pontos, rematar à baliza do adversário também não e a falta de sorte ainda não é desculpa para repetir jogos em dias em que os astros estão em posição mais favorável. no futebol ou se marca golo ou não se marca. o quase não vale nada,não se pode ir marcando por aproximação. não há meio termo num jogo, ou se ganha ou se perde. quase ganhar não vale de nada. e é assim em quase tudo na vida. imaginem as eleições para o governo. o partido que fica em segundo lugar não tem direito a governar uma vez por mês. ou na escola, por mais que os alunos insistam com os pais que um nove é quase um dez, a verdade é que um nove é um nove. com nove chumba-se e com dez passa-se. em muitas coisas na vida o quase não é suficiente.