junho 29, 2011

Viva o Santo António, viva o São João...

As festas dos Santos Populares são normalmente momentos de grande diversão e marcam a chegada do bom tempo e a partida definitiva dos molhados e frios dias de Inverno. Só estive no Santo António em Lisboa uma vez, mas foi uma noite muito bem passada. Há muita gente nas ruas e muita música por toda a parte. Também há a sardinha assada no pão, verdadeira iguaria para a maioria mas que eu dispenso. No São João do Porto nunca estive, mas imagino que também deve ser uma noite bem passada. Sei de fonte segura que o único senão da festa é que depois de meia hora a levar marteladinhas no alto da tola a coisa começa a ser um pouco irritante. Aqui por Barcelona e noutras cidades de Espanha também se celebra o San Joan. No ano passado não me lembro bem porquê mas não saímos de casa nessa noite, mas este ano e depois de tanto ouvir gabar as celebrações lá nos decidimos a ir descobrir o que de tão bom tem aqui o San Joan. A partir do meio da tarde muitas pessoas rumaram às praias onde se reunem a maioria dos foliões. Quando chegámos à praia de Barceloneta já a multidão tinha invadido o espaço. Havia algumas fogueiras, mas não muitas, e havia muita comida e ainda mais bebida. Mas aquilo que mais havia por aqui e que é a característica principal do San Joan em Barcelona eram petardos. Parece que nesse dia toda a gente resolve desatar a rebentar. Velhos e novos todos andam carregados de petardos, bombinhas e alguns que mais parecem fogo de artifício. Eu não sou grande entendida em pirotecnia mas a verdade é que vi de tudo. Brancos e de cores, uns que só assobiavam e outros que tinham direito a rebentar no fim. Sinceramente não me convenceu. O barulho é ensurdecedor e nunca se sabe de onde pode vir mais um petardo. A coisa às vezes tomas umas proporções que a mim me parecem um pouco descontroladas com gente a atirar petardos para cima uns dos outros, sem sequer tentarem que rebentem em sítios onde não há ninguém. Outra coisa que não gostei de ver foi darem petardos a crianças muito pequenas. Crianças de fraldas brincavam com os petardos enquanto eu horrorizada me questionava sobre a segurança daquela brincadeira. Mas aparentemente não devem acontecer acidentes com os petardos ou se os há não aparecem nas notícias. Enfim, posso dizer que já conheço o San Joan de Barcelona. Ficar fã não fiquei, mas ao menos já sei como é!

junho 07, 2011

Quando cheguei a Espanha arranjei trabalho numa loja chique. Quando comecei estava muito entusiasmada porque o trabalho, embora não fosse nenhum grande desafio para o intelecto, pelo menos parecia animado. Não demorou mais de uma semana para perceber que a loja passava mais tempo vazia do que com clientes e por consequência eu passava quase todo o dia sozinha. A loja ocupava dois magníficos apartamentos numa zona cara da cidade e com a falta de clientela a minha chefe passava os dias no rés do chão, onde existia um computador, enquanto eu ficava no primeiro andar à espera que chegasse alguma cliente que tinha marcado hora ou alguma que passasse na rua e tocasse à campainha. As clientes eram poucas, muito poucas e eu ficava encerrada naquele apartamento lindo, mas vazio. A minha chefe era uma pessoa estranha e desde início nunca me senti confortável com ela. Tentava fazer-se de muito minha amiga, perguntando-me coisas da minha vida às quais eu tentava não responder e adorava dar-me abraços como se fôssemos as melhores amigas e eu detestava tanto contacto físico com aquela pessoa que tinha acabado de conhecer. Para além do mais todas estas atitudes dela me soavam a falso e forçado o que aumentava ainda mais o meu desconforto. Para piorar a coisa ainda mais, um dia ela pediu-me que lhe fosse procurar uns papéis e na pilha onde tive de procurar estavam as notas que ela tinha tomado no dia da minha entrevista e o comentário era "not tall, not thin". Pois alta não sou e com esta idade também já não cresço mais, magra também não sou mas ainda não estou em fase de precisar de entrar num programa de televisão para emagrecer. Obviamente o facto de eu não ser nem alta nem magra era para ela um problema, o que ela não contava era que todas as "manequins" que lhe apareceram à entrevista soubessem apenas falar espanhol e como ela precisava de uma pessoa que falasse bem inglês teve de se contentar comigo. Tudo isto a juntar ao facto de ela ser desorganizada, esquecida e de tratar as clientes conforme o seu humor momentâneo tornavam as minhas idas para o trabalho cada vez mais duras. A coisa atingiu um dos seus piores momentos quando um dia eu arrumava caixas numa prateleira alta, a camisola que eu trazia subiu e ela viu que eu tinha uma tatuagem. Olhou para mim com um misto de horror e descrença e disse:"Is that a tattoo?I never thought you were that kind of girl!". Esse tipo de rapariga??? Mas que tipo de rapariga?? O facto de ter uma tatuagem é que diz o tipo de pessoa que sou?? Eu compreendo que há pessoas que não gostam de tatuagens, que não se imaginam a marcar o seu corpo de uma forma definitiva, mas espero que quem não gosta compreenda que há quem goste e quem não se importe de levar estas marcas no corpo até ao dia em que vá desta para melhor. Eu adoro a minha tatuagem e penso fazer mais. Reflecti bastante antes de a fazer e por isso não me arrependo. Apesar de achar que as tatuagens não dizem absolutamente nada do carácter, da personalidade ou do profissionalismo de alguém sei que nem toda a gente pensa assim e foi por isso que decidi que a minha estivesse num sítio que não está normalmente exposto e por isso só na praia é que não está escondida. Mesmo assim tenho de levar com o comentário da imbecil a dizer que nunca pensou que eu fosse esse tipo de rapariga. Fiquei furiosa mas engoli o que me apeteceu responder-lhe porque precisava do trabalho. Aquela insinuação de que eu era ( ou já tinha sido em tempos) uma leviana, drogada, bêbada e promíscua deixou-me doida, como se não houvesse tantos executivos de fato e gravata que passam as noites a dar na coca, mães de família de andam movidas a whisky e vodka e meninas de coro que saltam de colchão em colchão como se o sexo fosse uma competição. Eu sei que muita gente faz juízos de valor quando vê que eu tenho a tatuagem, mas pelo menos que os guardem para si que não me interessa ouvir disparates, porque o que mais me custou foi ela ter-me dito o que pensava e ter olhado para mim como se eu tivesse cometido algum crime. Por isso é que devemos pensar sempre bem antes de abrirmos a nossa boca, evitamos às vezes maçar os outros com opiniões que podemos guardar só para nós.

Mais sobre este tema: http://www.joseluispeixoto.net/24052.html